Cuidado com as ovelhas

No ano de 2003 fui eleito vice-presidente da CNM (Confederação Nacional de Mocidades) da Igreja Presbiteriana do Brasil. Minha primeira tarefa foi participar da organização de um encontro regional na cidade de Niterói no Rio de Janeiro. Nesse encontro pude conversar com mais tempo com Rev. Martorelli Dantas, na época o secretário geral da mocidade. O Rev. Martorelli é uma mente brilhante. Consegue esplanar a verdade bíblica com grande visão da realidade atual. Durante o encontro o Rev. Martorelli comunicou a diretoria presente a sua saída da secretaria e da igreja presbiteriana. Fiquei triste com esta perda, mas como reformado, tenho a plena convicção de que todas as coisas acontecem pela soberana vontade de Deus.

O Rev. Martorelli nos deixou uma frase que ecoa nos meus ouvidos até hoje como um marco no meu ministério como presbítero.

- O mais importante são as pessoas.

Na igreja hoje esquecemos, como líderes, que o mais importante são as pessoas. A igreja são as pessoas, a comunidade local são as pessoas, sem elas não temos grupo. É algo bem simples. Nos podemos fazer várias ponderações teológicas e exegéticas sobre o que é igreja. E creio que isso é realmente importante, mas todas estas considerações são para que as pessoas, ou mudando um pouco a linguagem, as ovelhas, cresçam em conhecimento, que possam gerar uma nova atitude frente ao pecado, uma posição correta de verdadeira adoração.

O que vemos na igreja hoje é algo bem oposto. Os interesses pessoais se sobrepondo aos do coletivo. Um tratamento distante do rebanho, lembrando em muito a visão medieval de um clero acima do povo.

As ovelhas estão doentes, sangrando, fracas, desmotivadas. Estão procurando um pastor que as aconchegue, abrace, cuide, trate as feridas.

Quando olhamos tantas igrejas surgindo, com as teologias mais loucas, imediatamente elas são identificadas pelos seus erros. Mas tenho refletido justamente no contrário. No que estas igrejas tem acertado nestes últimos dias. Como elas tem conseguido alcançar o coração de muitas pessoas. E o que nos, igreja reformada podemos fazer para aprender com estas novas igrejas, sem se entregar aos modismos, sem se vender para conquistar novos membros?

Não sou um expert no assunto, nem tenho um estudo analisando o momento atual, mas creio que ponto chave é a linguagem. Podemos falar das verdades biblicas com uma linguagem mais usual, mais atual. Não precisamos negociar conteúdo, mas temos que aprender a nos expressar melhor nos dias atuais.

Muitos dos nossos estão cansados, esgotados com o massacre do mundo atual. Temos que cuidar mais de perto das nossas ovelhas. Elas tem que se sentir pastoreadas, envolvidas, protegidas. Temos que gastar muito mais tempo cuidando, tratando as feridas.

" Aos presbíteros que estão entre vós, admoesto eu, que sou também presbítero com eles, testemunha das aflições de Cristo, e participante da glória que se há de revelar, apascentai o rebanho de Deus que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de animo pronto; nem como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo ao rebanho.
E quando aparecer o Sumo Pastor, alcançareis a incorruptível coroa de glória.

I Pedro 5. 1-4